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Aprenda como usar a ferramenta Canvas no Marketing Relacionado à Causa

Adaptamos o Business Model Canvas que conquistou o mundo empresarial para o contexto do MRC. Confira e baixe também a ferramenta exclusiva que preparamos para aplicação de todo o conhecimento adquirido na leitura.

O planejamento no Marketing Relacionado à Causa (MRC) é essencial para o sucesso da estratégia. É nesse momento que podem ser observadas algumas etapas essenciais de implementação, princípios e premissas,  importantes para o projeto, bem como os objetivos, metas, métricas e KPIs que ajudem a acompanhar, medir e evoluir o processo. No texto de hoje vou lhe apresentar um recurso para te ajudar a organizar os principais elementos do seu plano de Marketing de Causa: o Business Model Canvas adaptado para o contexto do MRC, além de uma ferramenta exclusiva para você baixar e aplicar todo o conhecimento adquirido.

Antes de apresentar a ferramenta é importante termos clareza do conceito de modelo de negócio. Este descreve a lógica pela qual uma organização cria, entrega e captura valor, delineando as diferentes dimensões de sua atuação. Uma das principais formas utilizadas para representar estes modelos é o Business Model Canvas, mais conhecido como “Canvas”.

O Business Model Canvas pode ser definido como uma ferramenta de planejamento e gestão estratégica que permite desenvolver e modelar negócios novos ou existentes. É um mapa ou tela visual pré-formatada contendo nove blocos a serem preenchidos. Seu objetivo é dar apoio na criação, diferenciação ou inovação do modelo de negócios. Criada pelo suíço Alex Osterwalder, a ferramenta é amplamente utilizada por grandes empresas e startups. 

O Canvas do MRC, criado por mim, foi inspirado no Business Model Canvas de Osterwalder, com o objetivo de apoiar organizações sociais e empresas na criação e inovação de programas de marketing de causa. Você pode baixá-lo aqui. Com ele em mãos, podemos avançar para o entendimento de como aplicar a estratégia de MRC a essa ferramenta de planejamento estratégico a partir de 18 blocos essenciais. Vamos a eles.

1. Problema/desafio da sociedade

Qual é o problema social e/ou ambiental que a organização ou projeto se propõe a resolver?  

Aqui vale deixar muito claro qual é o problema que a organização social busca solucionar e que diz respeito a sociedade. São diversos os exemplos na atualidade: fome, pobreza, desigualdade social, educação deficiente, mudanças climáticas, escassez de moradia, falta de saneamento, destruição da natureza, saúde precária, preconceito e discriminação (racial, gênero, idade etc.), crise migratória, entre outros.Aqui, senso de urgência faz a diferença, sendo essencial o convencimento das pessoas de que seu problema é tão grande que elas devem agir imediatamente.

2. Público impactado da ONG/causa

Qual o público atendido ou beneficiário do projeto social e/ou ambiental?

Os beneficiários dos projetos sociais e/ou ambientais também devem ser muito bem definidos, afinal de contas as pessoas não doam para as organizações, mas para ajudar outras pessoas como crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, idosos desassistidos, população LGBTQIA+ em situação de rua, migrantes e refugiados que enfrentam violação de direitos humanos, mulheres microempreendedoras menos favorecidas e vulneráveis, além de animais abandonados e em situações de risco, dentre outros.

3. Doador da ONG/causa

Quem são os atuais doadores e apoiadores da organização social?

Além dos beneficiários, é muito importante conhecer o perfil dos atuais doadores e apoiadores da organização social e da causa. Por exemplo, o doador típico de uma ONG que apoia a causa da proteção animal poderia ser descrito como mulher, moradora da região Sudeste, sem filhos, na faixa-etária de 25 a 49 anos, ensino superior, classe B e apaixonada por animais de estimação.   

4. Resultados para a ONG/causa

Quais objetivos e/ou metas a organização ou projeto social pretende alcançar com a parceria?

São diversos os possíveis resultados que uma iniciativa de MRC pode proporcionar para a ONG e sua causa, incluindo aumento da arrecadação de recursos livres que contribuam com o crescimento institucional da organização, amplificação da visibilidade e do conhecimento da instituição e suas ações, sensibilização da população para determinada causa e ampliação da rede de parceiros e aliados. Após a leitura, recomendo que leia também sobre objetivos, metas, métricas e KPIs ,conteúdo que poderá te ajudar nessa etapa. 

5. Oportunidade de mercado

Existe alguma oportunidade de marketing e negócios que não está sendo atendida? Um problema para ser resolvido (necessidade não atendida)?

Dentre as oportunidades para adoção de inciativas de MRC pelos negócios destacam-se pessoas, sobretudo membros da geração Z, expressando cada vez mais preocupação com causas sociais e ambientais; pressão dos investidores por práticas ESG das empresas; falta de conhecimento dos programas de responsabilidade social da companhia por grande parte dos consumidores; e baixo senso de pertencimento e orgulho dos colaboradores de fazer parte da organização.

6. Público-alvo da empresa/marca

Quem são nossos clientes? Quem pagará e quem usará o produto?

O público-alvo é um grupo específico de consumidores com características em comum (idade, sexo, profissão, renda, interesses, etc.) e que estão mais dispostos a comprar os produtos da empresa.  Exemplo de público-alvo: mães que tiveram o primeiro filho, moradoras da região Sudeste, idade média de 25 anos, ensino superior e pertencentes a classe B.  

7. Resultados para a empresa/marca

Quais objetivos e/ou metas a empresa/marca pretende alcançar com a parceria?

Dentre os resultados esperados podemos considerar: melhorar a reputação da empresa frente a seus diferentes públicos na dimensão de responsabilidade social; potencializar o seu impacto positivo para a sociedade; melhorar o senso de pertencimento e orgulho dos colaboradores de fazer parte da empresa; melhorar a experiência do cliente ao longo da sua jornada de compra ao potencializar a entrega de benefícios emocionais,  melhorar o relacionamento com o varejo;  fortalecer o posicionamento da marca e aumentar quantidade de menções positivas no ambiente digital. 

8. Produto / O que oferecer

Qual é o produto ou serviço entregue ao cliente? Quais os benefícios e necessidades atendidas? O que o cliente enxerga como valor?

A parceria de Marketing de Causa da Havaianas com o Instituto Ipê é um bom case. Produto democrático que atinge vários segmentos, Havaianas é uma das marcas mais conhecidas e queridas do Brasil. Para concretizar a parceria foi lançada uma coleção de sandálias estampadas com animais em extinção, as Havaianas-Ipê

Ao adquirir as sandálias o consumidor possui o benefício do produto em si e a satisfação de ajudar a preservação do meio ambiente, já que 7% da venda líquida é direcionado para o Instituto. Ao usar o produto ele também demonstra para as outras pessoas o seu apreço pela causa ambiental. Dessa forma, a parceria potencializa os benefícios emocionais e de imagem entregues aos consumidores. 

9. Promoção / Como divulgar

Como os produtos ou serviços serão divulgados?

As empresas dispõem de uma série de ferramentas do mix de comunicação (propaganda, promoção de vendas, marketing direto, relações públicas e venda pessoal) e mídias (TV, rádio, redes sociais etc.) tradicionais e digitais para divulgar seus produtos.

A marca de moda Reserva, por exemplo, divulga o seu programa de marketing de causa, 1P5P (a cada peça vendida, a empresa viabiliza a entrega de 5 pratos de comida para quem tem fome), através de sinalização no PDV, website, redes sociais, e-mail marketing e nas embalagens e etiquetas dos produtos. Disponibiliza também um site para dar transparência ao programa, atualizando a cada 15 minutos a quantidade de pratos doados.

Vale ressaltar a importância da comunicação da parceria para os públicos internos, tanto da empresa quanto da organização social. Nesse sentido, recomenda-se a elaboração de um roteiro de perguntas e respostas, se antecipando às possíveis objeções, como por exemplo: a ONG é confiável? Minha doação faz alguma diferença? Meu dinheiro vai chegar lá?  

E não se esqueça de agradecer ao doador, reconhecendo e valorizando sua generosidade em todas as comunicações.

10. Praça / Onde oferecer

Onde os produtos serão ofertados?

A praça se refere aos locais onde os produtos serão ofertados, sejam eles físicos ou digitais. Loja física própria, loja física parceira, televendas, porta a porta, quiosque, e-commerce próprio ou marketplace são exemplos de praça.

O Movimento Arredondar é um bom exemplo de organização que potencializa a cultura de doação no varejo.  A organização criou uma plataforma que permite ao consumidor fazer a doação para organizações sociais no momento de pagar uma conta em lojas de varejistas através do arredondamento do troco.

11. Preço / Por quanto oferecer

Para definir o preço na estratégia de Marketing Relacionado à Causa, existem vários modelos que podem ser adotados. Há casos em que a empresa absorve o valor da contribuição para a ONG na margem de suas vendas; há outros em que o lucro é total ou parcialmente destinado. Há, ainda, casos em que a empresa realiza doações em dinheiro a partir de uma interação do consumidor com a marca nas redes sociais, independente da compra de seus produtos. Seja qual for a escolha, é fundamental garantir a transparência ao consumidor sobre a composição do preço com o componente de doação.

12. Mecânica de doação

Mecânica de doação pode ser definida como a forma de se materializar a contribuição do consumidor para a causa. Deve ser didática, fácil, atraente, comunicada com muita transparência e desenhada com o objetivo de melhorar a experiência ao longo da jornada de compra. Algumas das principais mecânicas já foram abordadas aqui no blog: percentual da renda de produtos existentes; criação de produto social; compre um, doe um; doação de outros produtos; arredondamento de troco; doe milhas ou pontos; cashback social; doe via conta de consumo; um post, uma doação; um play, uma doação. 

Exemplos: 7% da receita líquida da sandália Havaiana-Ipê é revertida para o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas); 1P=5P: a cada peça vendida a Reserva viabiliza a entrega de 5 pratos de comida; #1Kiss1Donation: a cada beijo virtual postado nas redes sociais, Doritos Rainbow doa R$ 1,00 para instituições que lutam pela causa LGBTQAI+.; 1 play=1doação: a cada play recebido na música “sOMOs”, uma doação é destinada ao projeto Criança Esperança; para cada milha doada pelo cliente a Smiles doa outra milha para instituições que ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade. 

13. Recursos da ONG

Quais os ativos mais importantes da ONG podem ser utilizados para fazer a parceria funcionar?

A organização social pode colocar à disposição da parceria seu profundo conhecimento da causa em que atua, uma equipe qualificada e especializada no tema (educadores, assistentes sociais, médicos, biólogos etc.), histórias ou situações reais de transformação do público atendido (personagens/storytelling), seu reconhecimento e reputação no mercado, bem como sua base de doadores, voluntários e apoiadores para colaborar com a iniciativa.    

14. Atividades-chave ONG

Quais as principais ações que a ONG deve realizar para fazer a parceria de Marketing de Causa funcionar?

A ONG deve definir um ponto focal responsável por cuidar do bom andamento da iniciativa; fornecer para a empresa conteúdo (textos, imagens, vídeos etc.) sobre a causa e seus projetos, contemplando depoimentos dos beneficiários; aprovar peças publicitárias de campanhas e design dos produtos; realizar palestras e promover visitas aos projetos para colaboradores, clientes e parceiros da empresa; comunicar a iniciativa internamente para seus colaboradores e voluntários e externamente para doadores, apoiadores e público em geral; elaborar e divulgar relatórios periódicos de atividades; prestar contas e apresentação de resultados, dentre outras atividades.

15. Custos da ONG

Quais os principais custos da ONG envolvidos na parceria?

Dentre os principais custos da ONG podemos destacar: pessoal (dedicado e alocado em atividades específicas), comunicação da iniciativa (criação de artes para as redes sociais, redação de conteúdos de prestação de contas, assessoria de imprensa, outros), treinamento e assessoria jurídica.  

16. Recursos da empresa

Quais os ativos mais importantes da empresa podem ser utilizados para fazer a parceria funcionar?

Por meio de parcerias de MRC a empresa pode compartilhar diversos ativos com as organizações sociais incluindo seu conhecimento e expertise em marketing, a potência das suas plataformas de comunicação, a força de suas marcas, a capilaridade de seus canais de vendas, o apoio da equipe de vendedores, espaço físico nas lojas, ampla base de clientes, rede de parceiros, tecnologia de ponta e recursos financeiros.

17. Atividades-chave da empresa

Quais as principais ações que a empresa deve realizar para fazer a parceria de Marketing de Causa funcionar?

As principais ações da empresa incluem: definição de um ponto focal para condução da parceria de MRC; responsabilidade por criar, produzir, distribuir e comercializar os produtos sociais; desenvolvimento e implementação de campanha de comunicação interna e externa; treinamento de equipe de vendas e de atendimento; adequação dos sistemas de TI, quando necessário; repasse dos recursos doados para a organização social; compartilhamento de relatórios periódicos de avaliação e controle com a ONG; divulgação das informações de resultados da iniciativa para todos os públicos de interesse.

18. Custos da empresa

Quais os principais custos da empresa envolvidos na parceria?

Produção, distribuição e comercialização de produtos, comunicação, treinamento e tecnologia estão entre os elementos com maior potencial de custos para a empresa.

Espero que o conteúdo de hoje lhe ajude a compor um planejamento consistente de MRC. Cabe ressaltar que o Canvas é um trabalho de cocriação e que, portanto, deve ser elaborado por colaboradores de diferentes áreas da empresa e da organização social. 

Vale destacar ainda que essa ferramenta deve ser mantida em constante evolução e adaptação, estando sempre em “estado beta”. Isso significa que o quadro não deve ser guardado em uma gaveta, mas colocado em um local visível para que toda a equipe envolvida com a iniciativa possa regularmente revisá-lo e refletir sobre as hipóteses do modelo de negócio, fazendo as adaptações sempre que julgar necessário.    

Tem dúvidas de como criar um Programa de MRC efetivo? Entre em contato conosco e te ajudamos nessa jornada.

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Daniel Tubenchlak

Daniel Tubenchlak

Mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, com pós-graduação em Marketing pela ESPM, MBA em Gestão de Projetos pela George Washington University e especialização em Licensing pela International Licensing Industry Merchandisers’ Association. Graduado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Mais de 20 anos como gestor de negócios em empresas como Brasil Telecom (Oi), Unibanco (Itaú), Petróleo Ipiranga e organizações internacionais do 3º setor – UNICEF e WWF. Nestas, liderou projetos de marketing de causas e patrocínios com empresas líderes: Unilever, LG, Correfour e Tilibra/ACCO Brands.

Além de fundador e sócio da LT For Good, é professor de pós-graduação em cursos de MBA nas áreas de gestão e marketing.

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